quinta-feira, 31 de março de 2011

Ovulação




Pensamento obsessivo em querer te comer feito uma fruta fresca, quando a gente coloca logo tudo na boca, e alguns pedaços escorrem entre os dedos, outros pelo queixo e a gente não liga e se delicia com o gosto, e depois esfrega a fruta no corpo nu para provar sua textura e temperatura, e seu doce por todos os poros.

Como tomar posse de algo que vaza para fora do corpo, do continente? Eu terei de suportar este transbordar infinito?

segunda-feira, 28 de março de 2011


Aqui, eu sei, um brilho me mantém, não pára
Na dor, a cor não falta não
E não gasta
Calor, me vem subindo, me mantém acesa
Vazou pra ti,
Se chegou aí, beleza
É nosso Sol, é nosso ardor,
É nosso tanto de calor
Que vem, que vai, inunda o céu de cor
É sensual, fenomenal,
Um ritual de exaltação
Ao deus que for das práticas do amor

Mariana Aydar

sábado, 26 de março de 2011

Dois



No deserto é só areia e vento. Boca seca e olhos apertados. E muita luz, igual ao inferno.

A mulher andava pela beira da rua, pensava no marido. Sentia por ele uma vontade de abrir o peito e os braços, e aquele calor por baixo da saia. O marido é, além de tudo, um homem bom. Trabalha no mercado, tem apreço por família. Não bebe nem trepa nas putas. Homem bom. Só um dia que lhe levantou a mão. Ela deixou a cara na frente, e os olhos chispando para o meio da testa dele. O movimento cessou para sempre.

Caminha pela nuvem de areia que invade a rua. No seu coração, uma semente começa a se mover no meio da terra escura.

O moço conversava com o marido na porta do mercado quando a mulher o viu pela primeira vez. Foi ao encontro da dupla dengar o marido. Percebeu que a cara do moço lhe deixou aquela semente a lhe descer pela garganta seca. 

Durante a caminhada o brotar lhe faz parar no meio do vento, e na secura abre bem os olhos quando se dá conta do amor duplo. A imagem do moço invade seu corpo como faz a areia, invade seu sexo, seu peito e seu cabelo, como um abuso, sem nenhum respeito.

Com os passos vacilantes e arrastados vai ao mercado, o marido varre a calçada. Ainda tomada pelo vigor da invasão anterior, coloca os olhos em cima do marido. Ternura e amor, braços e peito abertos.

Agora a sua existência bipartida é em um só corpo: dor, amor e silêncio. Desejo e sanidade.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Da Mistica



"Captar Deus é tê-lo em todas as dimensões da vida, não apenas em situações privilegiadas, como quando se comunga ou se reza. Ter a experiência de Deus sempre – andando na rua, respirando o ar poluído, alegrando-se, tomando cerveja, procurando entender um texto que se esteja estudando. Deus vem misturado com tudo isto; e qualquer situação é suficientemente boa para captá-lo e dizer:” Ele anda conosco”.

“A chave do místico é procurar ver o que está por trás de cada coisa, o que a constitui e sustenta. Não ficar preso ao superficial, – mas fazer de tudo um símbolo, um sinal, um sacramento, uma imagem”.
Leonardo Boff

quinta-feira, 17 de março de 2011

SONHO



Sonhei com você forte e desesperadamente.
Acordei como se você fosse a única maneira de escapar de um desastre.
O desastre é minha alma sozinha no meio de um deserto quente e vermelho, explodindo de loucura e sem ninguém lá para ver, ou para receber, ou para perceber.
A sua ignorância me faz sufocar um grito, um choro, um pavor.
No meu coração cabem muitos, ou ele exige todos?
Forma cruel de amar, forma diabólica de ser, forma doída de sonhar. 
Grita, sonho! Grita mais alto por que aqui de onde eu estou, não consigo te ouvir e nem posso gritar.
Garganta presa e amassada como uma latinha de cerveja.

Te desejo, com todos os seus erros e impossibilidades.