segunda-feira, 7 de maio de 2012

Segunda Vermelha: Menstruação é poder


                
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A maioria das pessoas tem a mesma ideia vindo à mente quando se pensa em menstruação e não é uma coisa boa, mas sempre associada ao sofrimento. O documentário “La luna em ti” mostra que a menstruação como uma coisa ruim nos é ensinada e compartilhada desde a infância. Isso quer dizer que antes de nós mulheres chegarmos a ela e termos a nossa própria experiência, já nos foi vendido e carimbado que vamos inevitavelmente sofrer com dores e muito incômodo. Já nos foi ensinado que não é pra falar sobre o assunto por aí, e que não devemos deixar ninguém perceber quando estivermos menstruadas.
Pior do que isso, ou tão ruim quanto, é nunca ter conversado com ninguém sobre menstruação quando somos crianças. E isso não é raro. Pela conversa com as amigas, poucas tiveram um papo franco com a mãe, irmã ou qualquer referência feminina mais velha sobre menstruação e sexo. Não posso imaginar por que os educadores não diriam a uma menina que ela vai menstruar e o que isso significa, pois na minha experiência sempre tive minha mãe, aberta a conversar qualquer assunto e interessada em me explicar o que ela podia sobre a sexualidade feminina (obrigada, mamis!).
Sim, menstruação é parte da sexualidade, menstruação é sexo. É parte exclusivamente da sexualidade feminina, como gravidez, parto e menopausa. Tudo isso é sexo para nós. É uma violência tratar destes acontecimentos como se fossem doenças incômodas da mulher, e como se fossem eventos isolados entre si. Seguimos vivendo com a cara pra cima, esperando que uma dessas coisas aconteça para que a gente possa correr no ginecologista pegar remédio, cirurgia, hormônios, dicas, equipamentos, todo o aparato necessário para se livrar da dor e do incômodo de ser mulher.
E se não fosse assim? E se a sexualidade feminina fosse respeitada e olhada como uma coisa não apenas normal, mas sagrada? Posso contar o que aconteceu comigo quando aprendi a me ver como uma deusa e com toda sacralidade.

Eu cresci vendo minha mãe se contorcer na cama de cólica e sangrar o bastante para dormir com dois absorventes grandes, e ainda vazar sangue. Menstruei cedo, com 10 anos, e tive vários problemas, sempre com TPM e cólicas muito fortes. Mal sabia eu que estava sendo abençoada, e não sacrificada por ser mulher, a “mensageira do pecado” (desserviços do catolicismo...) .
Aos 27 anos, me entupindo de anticoncepcional há 10 anos sem pausas e menstruando 10 dias por mês com muita cólica e muita raiva disso, eu comecei a tentar pensar diferente. Me lembrei das coisas que eu andava lendo, de que a mulher e seu corpo têm uma sabedoria que foi por muito tempo silenciada, e subutilizada, subestimada, por causa do domínio da energia masculina no mundo, nos rituais e nas religiões entre outros setores da cultura e da sociedade. Então nós mulheres temos poder e responsabilidade no resgate do feminino.   
E a menstruação, que é uma coisa natural que o corpo faz sozinho, e é só feminino, deve querer falar de alguma coisa relacionada a este poder do feminino, deve ser um momento importante, já que se repete tanto. Aí fui vendo que sentimento que a chegada da menstruação me trazia. E vi que era tipo um luto, então pensei que talvez a menstruação fosse a morte. Mas a gente aprende a morte como sendo uma coisa horrível, e na verdade é uma oportunidade de arar a terra e plantar outras coisas, de poder criar de novo, o novo. A morte é muitas vezes necessária para que possamos ir em frente. É uma oportunidade de renascimento. Então nessa perspectiva li meus livros de tarot, dei uma olhada na carta da morte e decidi que eu ia me livrar de todos os pensamentos que me incomodavam, ia me recolher ali no meu xixi e enquanto o sangue gotejava no vaso, fui imaginando essas coisas indo embora, que eram seu destino. Aí nesse mesmo dia, que era o 3o dia da menstruação, ela parou. Suspendeu, parou de sair sangue à noite. Assim, sem dar nem uma explicação ela foi-se. Parece besteira, mas eu fiquei de estupefata!
No final de semana seguinte fui me encontrar com as deusas do meu grupo de doulas, muitas delas no caminho de retomar este poder do feminino há algum tempo. Então uma delas me falou que estava menstruada e falou assim: “eu adoro minha menstruação!”. Eu nunca tinha escutado isso em toda a minha vida! Ela disse isso que eu cheguei à conclusão sozinha, de que era uma oportunidade que só nos mulheres temos, abençoadamente, todo mês, de nos recolhermos, nos purificarmos e que era mesmo uma bênção. E que ela (e outras do grupo) faziam rituais durante esta fase do mês. Então uma outra disse que a sexualidade dela melhorou muito depois desses rituais, que ela gosta de menstruar na terra, de deixar o sangue gotejar na terra e devolver pra Grande Mãe Terra este sangue sagrado, e cada uma tinha seus rituais que elas mesmas inventaram, mas com muito respeito por este momento, e fazendo uso desta bênção que é a menstruação.
Além de ter ficado chocada com essa outra perspectiva sobre a menstruação, eu fiquei emocionada e tocada profundamente, e resolvi tentar este caminho, achar meu jeito de me relacionar de forma saudável com meu ciclo menstrual, acolhendo a TPM como uma oportunidade de ver meus defeitos escancarados em um espelho gigante e respeitando o sangue que escorre entre as minhas pernas como uma purificação do meu corpo.
 
Depois de andar um pouco neste caminho, o fluxo diminuiu bastante, a TPM foi atenuada, as cólicas praticamente desapareceram e eu me sinto sagrada, abençoada, irmã de todas as mulheres, útero com útero, a gente respira vida. Adoro cada dia mais ser mulher! Cada dia mais Deusas!