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A maioria das
pessoas tem a mesma ideia vindo à mente quando se pensa em menstruação e não é
uma coisa boa, mas sempre associada ao sofrimento. O documentário “La luna em
ti” mostra que a menstruação como uma coisa ruim nos é ensinada e compartilhada
desde a infância. Isso quer dizer que antes de nós mulheres chegarmos a ela e
termos a nossa própria experiência, já nos foi vendido e carimbado que vamos
inevitavelmente sofrer com dores e muito incômodo. Já nos foi ensinado que não
é pra falar sobre o assunto por aí, e que não devemos deixar ninguém perceber
quando estivermos menstruadas.
Pior do que
isso, ou tão ruim quanto, é nunca ter conversado com ninguém sobre menstruação
quando somos crianças. E isso não é raro. Pela conversa com as amigas, poucas
tiveram um papo franco com a mãe, irmã ou qualquer referência feminina mais
velha sobre menstruação e sexo. Não posso imaginar por que os educadores não
diriam a uma menina que ela vai menstruar e o que isso significa, pois na minha
experiência sempre tive minha mãe, aberta a conversar qualquer assunto e
interessada em me explicar o que ela podia sobre a sexualidade feminina
(obrigada, mamis!).
Sim,
menstruação é parte da sexualidade, menstruação é sexo. É parte exclusivamente
da sexualidade feminina, como gravidez, parto e menopausa. Tudo isso é sexo
para nós. É uma violência tratar destes acontecimentos como se fossem doenças
incômodas da mulher, e como se fossem eventos isolados entre si. Seguimos
vivendo com a cara pra cima, esperando que uma dessas coisas aconteça para que
a gente possa correr no ginecologista pegar remédio, cirurgia, hormônios, dicas,
equipamentos, todo o aparato necessário para se livrar da dor e do incômodo de
ser mulher.
E se não fosse
assim? E se a sexualidade feminina fosse respeitada e olhada como uma coisa não
apenas normal, mas sagrada? Posso contar o que aconteceu comigo quando aprendi
a me ver como uma deusa e com toda sacralidade.
Eu cresci vendo minha mãe se contorcer na cama de
cólica e sangrar o bastante para dormir com dois absorventes grandes, e ainda
vazar sangue. Menstruei cedo, com 10 anos, e tive vários problemas, sempre com
TPM e cólicas muito fortes. Mal sabia eu que estava sendo abençoada, e não
sacrificada por ser mulher, a “mensageira do pecado” (desserviços do
catolicismo...) .
Aos 27 anos, me entupindo de anticoncepcional há 10
anos sem pausas e menstruando 10 dias por mês com muita cólica e muita raiva
disso, eu comecei a tentar pensar diferente. Me lembrei das coisas que eu
andava lendo, de que a mulher e seu corpo têm uma sabedoria que foi por muito
tempo silenciada, e subutilizada, subestimada, por causa do domínio da energia
masculina no mundo, nos rituais e nas religiões entre outros setores da cultura
e da sociedade. Então nós mulheres temos poder e responsabilidade no resgate do
feminino.
E a menstruação,
que é uma coisa natural que o corpo faz sozinho, e é só feminino, deve querer
falar de alguma coisa relacionada a este poder do feminino, deve ser um momento
importante, já que se repete tanto. Aí fui vendo que sentimento que a chegada
da menstruação me trazia. E
vi que era tipo um luto, então pensei que talvez a menstruação fosse a morte. Mas a gente aprende a morte
como sendo uma coisa horrível, e na verdade é uma oportunidade de arar a terra
e plantar outras coisas, de poder criar de novo, o novo. A morte é muitas vezes
necessária para que possamos ir em frente. É uma oportunidade de renascimento.
Então nessa perspectiva li meus livros de tarot, dei uma olhada na carta da
morte e decidi que eu ia me livrar de todos os pensamentos que me incomodavam, ia
me recolher ali no meu xixi e enquanto o sangue gotejava no vaso, fui
imaginando essas coisas indo embora, que eram seu destino. Aí nesse mesmo dia,
que era o 3o dia da menstruação,
ela parou. Suspendeu, parou de sair sangue à noite. Assim, sem dar nem uma
explicação ela foi-se. Parece besteira, mas eu fiquei de estupefata!
No final de semana seguinte fui me encontrar com as
deusas do meu grupo de doulas, muitas delas no caminho de retomar este poder do
feminino há algum tempo. Então uma delas me falou que estava menstruada e falou
assim: “eu adoro minha menstruação!”.
Eu nunca tinha escutado isso em toda a minha vida! Ela disse isso que eu
cheguei à conclusão sozinha, de que era uma oportunidade que só nos mulheres
temos, abençoadamente, todo mês, de nos recolhermos, nos purificarmos e que era
mesmo uma bênção. E que ela (e outras do grupo) faziam rituais durante esta
fase do mês. Então uma outra disse que a sexualidade dela melhorou muito depois
desses rituais, que ela gosta de menstruar na terra, de deixar o sangue gotejar
na terra e devolver pra Grande Mãe Terra este sangue sagrado, e cada uma tinha seus
rituais que elas mesmas inventaram, mas com muito respeito por este momento, e
fazendo uso desta bênção que é a menstruação.
Além de ter ficado chocada com essa outra
perspectiva sobre a menstruação, eu fiquei emocionada e tocada profundamente, e
resolvi tentar este caminho, achar meu jeito de me relacionar de forma saudável
com meu ciclo menstrual, acolhendo a TPM como uma oportunidade de ver meus
defeitos escancarados em um espelho gigante e respeitando o sangue que escorre
entre as minhas pernas como uma purificação do meu corpo.
Depois de andar um
pouco neste caminho, o fluxo diminuiu bastante, a TPM foi atenuada, as cólicas
praticamente desapareceram e eu me sinto sagrada, abençoada, irmã de todas as
mulheres, útero com útero, a gente respira vida. Adoro cada dia mais ser
mulher! Cada dia mais Deusas!