Juro que ainda vou postar regularmente aqui, como uma forma de higiene.
Mas enquanto isso, mando um texto alheio. Citando a fonte, que mal tem?
Sem falar que acho uma opinião importante para as mudanças que urgem no mundo.
Nem acho que deveria ser "o futuro do FEMINISMO...". Deveria ser mesmo o futuro da HUMANIDADE, no sentido de humanidade mesmo, sentimentos humanos.
Taí:
Fonte:
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2010/06/23/futuro-do-feminismo-depende-dos-homens.jhtmFuturo
do feminismo depende dos homens
The New York Times
Katrin Bennhold
Em 1965, minha mãe era a única estudante de engenharia em sua classe
na Alemanha. Nã
o havia banheiro feminino exceto no porã
o, onde as
faxineiras tinham seus armários e seu professor pedia a ela que
encontrasse rapidamente um marido, para que ela nã
o fracassasse nas
provas.
O feminismo naquela época era bem claro: tratava-se de mulheres
cerrando fileiras para combater
o sexismo flagrante, receber educaçã
o
e ir trabalhar. Era, como minha mãe disse recentemente, “a respeito
das mulheres entrarem no mundo dos homens”.
O feminismo do futuro está se transformando em atrair os homens para
o
universo das mulheres – como pais envolvidos, parceiros iguais no lar
e embaixadores da igualdade de gênero,
do gabinete à sala da
diretoria.
No início
do século 21, as mulheres no mundo desenvolvido se veem em
um lugar peculiar. Com os meninos fracassando na escola e os homens da
classe operária perdendo seus empregos para a crise econômica,
acadêmicos preveem nã
o apenas “A Morte
do Macho” (“Foreign Policy”,
setembro de 2009), mas “
O Fim dos Homens” (“The Atlantic”,
julho/agosto de 2010).
A realidade é mais cheia de nuances. As mulheres obtêm mais
doutorados, mas menos dinheiro. Elas superam em número os homens na
força de trabalho, mas ainda sã
o responsáveis por grande parte
do
trabalho doméstico. Elas tomam as decisões de consumo, mas dirigem
apenas 3% das empresas da “Fortune 500”.
“Na teoria, nós agora temos direitos iguais”, suspirou uma alta
executiva de uma multinacional francesa, que de forma reveladora pediu
anonimato por temer irritar os homens de sua empresa. “Na prática, nós
ainda temos bebês.”
No mundo ocidental, a maternidade continua sendo uma barreira para a
igualdade de gênero. Até terem filhos, as mulheres jovens atualmente
ganham quase
o mesmo que os homens e sobem na escada da carreira em um
ritmo semelhante. Com os bebês frequentemente vêm interrupções na
carreira, trabalho em meio expediente e uma existência corrida em dois
turnos que significa
o sacrifício dos contatos informais, como as
experiências de beber cerveja e formar laços após
o expediente,
frequentemente cruciais no momento da promoçã
o.
Até
o momento,
o instinto dos políticos, empresas e mulheres
geralmente tem sido aumentar seu foco nas, bem, mulheres.
Muitos países ocidentais protegem os empregos das mulheres durante a
licença maternidade e vários oferecem às mães
o direito de jornadas
reduzidas. No mundo corporativo, as diretoras de recursos humanos
fazem lobby por horários de trabalho flexíveis e as diretoras de
diversidade organizam programas de apoio às mulheres. Redes de contato
de executivas, onde as mulheres podem desenvolver laços, estã
o
crescendo. E em inúmeras conferências de mulheres, estas debatem com
outras mulheres a respeito de mulheres e desenvolvem ainda mais laços.
Na melhor das hipóteses, essas iniciativas sã
o boas para dicas e para
o moral. Na pior, elas prendem as mulheres ao seu papel de protetoras
primárias.
O que nã
o fazem é colocar mais mulheres em posições de
liderança.
“Nós temos que acordar”, disse Avivah Wittenberg-Cox,
presidente-executiva da 20-first, uma consultoria de gestã
o de gênero.
“Nós temos que começar a nos concentrar nos rapazes.”
A única coisa que pode igualar
o campo de jogo no trabalho é igualar
o
campo de jogo em casa. E isso requer uma grande mudança na política
pública e na cultura corporativa.
Nos poucos países onde os pais têm licença paternidade em uma escala
significativa, essa licença é altamente remunerada e nã
o transferível
à mãe. De forma previsível, os nórdicos lideram
o caminho. A Islândia,
que está mais próxima de atingir igualdade de gênero segundo
o índice
de desigualdade de gênero
do Fórum Econômico Mundial, foi mais longe,
reservando três meses de licença para os pais. Nove entre 10 homens
islandeses tiram licença para ficar com seus bebês. Uma legisladora,
Drifa Hjartardottir, descreveu a lei de 2000 como “um dos maiores e
mais importantes passos voltados à igualdade de gênero desde
o direito
de votar das mulheres”.
Foi necessário um primeiro-ministro para vender a legislaçã
o ao país e
foram necessários líderes masculinos na Suécia e Noruega para
aprovaçã
o de leis semelhantes. Foi um homem que defendeu uma cota para
conselho diretor na Noruega, obrigando as empresas a preencherem pelo
menos 40% das cadeiras com mulheres.
Uma primeira-ministra espanhola conseguiria nomear um gabinete com 50%
de mulheres em 2004?
É improvável, pensa Celia de Anca, da IE Business School em Madri.
“Quando você quer mudar uma cultura”, ela disse, “é mais fácil para um
representante daquela cultura vender a mudança”.
Basicamente, os homens sã
o feministas mais eficazes, porque isso
aumenta a probabilidade de outros homens escutá-los.
Isso também vale para os negócios. Modelos de líderes femininas
importam, disse De Anca. Mas modelos masculinos que tiram licença para
ficar com seus bebês, encerram
o expediente em um horário decente,
promovem as mulheres e transmitem a notícia para seus colegas
masculinos talvez importem ainda mais.
Mas a mensagem está sendo transmitida.
Na França, por exemplo,
o Institut d’Études Politiques está
transformando os estudos de gênero parte
do currículo básico para
todos os alunos a partir de 2011. A Deloitte France está promovendo
uma iniciativa neste mês para educar os homens de seu quadro a
respeito da diversidade de gênero. Um punhado de empresas, incluindo a
gigante nuclear Areva (dirigida por uma mulher), colocou homens
encarregados de gênero.
Jean-Michel Monnot, chefe
do programa de diversidade europeia da
empresa de serviços de alimentaçã
o Sodexo, diz que seu gênero é seu
maior ativo no convencimento de seus colegas de empresa a promoverem
mulheres: “É preciso falar a linguagem dos homens”.
Poucos homens sã
o abertamente sexistas atualmente, ele disse. Mas eles
nã
o pensam duas vezes a respeito de marcar reuniões em horários
tardios. Alguns que dã
o a promoçã
o ao sujeito em vez da mãe recente se
consideram atenciosos.
Monnot, que até 2007 dirigiu 60 locais de produçã
o, fala por
experiência. Foi necessário um homem e outro fã de esportes para fazer
com que ele entendesse a questã
o, ao explicar para ele em um balcã
o de
bar, certo dia, por que gostava de uma boa mistura de gênero em suas
equipes. Ela melhorava
o ambiente, dava origem a novas ideias e estava
mais de acordo com os clientes da Sodexo.
“Até entã
o, eu nã
o achava que havia um problema e certamente nã
o
pensava em mim mesmo como sendo
o problema”, disse Monnot. Agora ele
viaja até as instalações de sua empresa encorajando os gerentes a
encerrarem
o expediente às 19h e aos pais recentes a optarem pelo meio
expediente “para dar
o exemplo”.
Dar à próxima geraçã
o fortes figuras paternas nã
o apenas ajudaria a
explodir
o teto de vidro, como também seria a melhor esperança para
esses meninos que fracassam na escola, que carecem de modelos
masculinos.
Os homens têm muito a ganhar com a ascensã
o das mulheres, disse Joanne
Dreyfus, uma auditora da Deloitte, em Paris, apontando que no momento
três quartos dos que estã
o tirando proveito
do esquema de horário
flexível da empresa sã
o mulheres.
Colocando de outra forma: a fronteira final da liberaçã
o das mulheres
pode ser a liberaçã
o dos homens.
Traduçã
o: George El Khouri Andolfato