sábado, 27 de março de 2010

A LEI DO VENTRE VAZIO




Instaurou-se no meu mundo a lei do ventre vazio. Nada mais poderá preencher este espaço do Ser, nem um membro. Seja este natural ou artificial. Nem uma vida nenhuma forma de existência. O ventre se contorce e dói vazio. Nem a paixão nem o desejo nem o amor. A nada será permitido entrar no ventre. Os legisladores sentem muito, mas dizem que mesmo que doa, mesmo que a dor se espalhe, mesmo que faça falta, o ventre deve ficar vazio. Sem ar nem água nem vida, só o ventre em si mesmo, vazio como um poço seco.
A vida leva à necessidade da lei, o cotidiano é muito mais sério. Leve a vida a sério, as obrigações são urgentes, o mundo não pode parar. Tempo é dinheiro e dinheiro é felicidade. Tempo é obrigação, não há espaço para preencher o ventre. Mantenha, mulher, o ventre vazio. E se cale. Os legisladores não sabem o que é vontade, não lembram o que é alma, não conhecem intuição e não se importam com o amor. Sinto muito, esta é a lei: mantenha o ventre vazio.

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